TEMA PARA REDAÇÃO
Texto 1:
O corpo é um dos meios
através dos quais nossa cultura se manifesta. Roupas, alimentos, gestos,
rituais no lazer e no trabalho, se expressam na superfície simbólica de nosso
corpo, onde também as regras, as hierarquias, as ideologias e as crenças estão
inscritas. O corpo, pois, tem sua linguagem e se constitui numa metáfora da
cultura na qual vivemos.
Mas ele não é somente um
texto da cultura, é também objeto de controle social. Rotinas e regras convertidas
em atividades habituais constroem nosso corpo e, reflexamente, o robotizam.
Quais dóceis cães pavlovianos, reagimos sempre da mesma maneira diante dos
mesmos estímulos.
Por meio da organização e
regulação do tempo, espaço e da vida diária, somos treinados, modelados e
marcados para desempenhar um papel conforme o momento histórico em que vivemos.
Especialmente com as
mulheres, sempre foram dispensados mais tempo e cuidados no manejo de seus
corpos, os quais, disciplinados e normatizados, tornaramse presa fácil de uma
estratégia de controle social. Nos tempos atuais, de um narcisismo exacerbado e
de uma cultura de imagens, a obsessiva preocupação com a aparência física afeta
mais fortemente o sexo feminino, acentua e mantém o domínio falocrático e cristaliza
as relações de poder entre os sexos.
Mas, assim como o corpo,
também as doenças têm sua história. Influenciadas pelos modismos, são
intensamente medicalizadas pelos progressos técnicos e comerciais da indústria
farmacêutica, alterados seus diagnóstico e a terapêutica. Novas patologias
foram criadas, sendo, algumas, puras elucubrações, elaboradas com propósitos
diversos que não médicos. E, novamente, as mulheres são as mais envolvidas.
Como a bruxaria e as
possessões demoníacas na Idade Média, a neurastenia e a histeria no século 19,
em nosso século, a adolescência, a gestação, a menstruação, a menopausa, foram
“adoecidas” e, portanto, tornaram-se passíveis de “tratamentos”.
Assim, vemos que, no passado
como no presente, o “corpo sofredor” da mulher se inscreve numa construção
ideológica da feminilidade, característica de cada período histórico. Portanto
não apenas a ética social, a aparência física, a sexualidade, o vestuário, a
alimentação, são política e ideologicamente conceitualizadas, mas as doenças e
seus enfoques terapêuticos também o são.
A busca intensa de uma
imagem corporal estereotipada e da perene juventude atormenta mais as mulheres. E esses objetivos femininos são
estabelecidos por especialistas que muscularizaram e masculinizaram o corpo
feminino a tal ponto, que até os suaves e arredondados perfis corporais e
certas manifestações fisiológicas próprias do gênero foram incluídas na lista
de patologias.
As mulheres são as maiores
consumidoras de produtos dietéticos e medicamentos, freqüentadoras de spas e
academias de ginástica, objetos de técnicas e experiências de contracepção, de
esterilização, de cirurgias plásticas e outras. Às quais, docilmente, se
submetem.
Talvez
não seja este o caminho para a autonomia feminina. Pois remodelar o corpo
segundo padrões e desejos androcráticos não possibilita acesso ao poder e aos
privilégios masculinos. Desejar sentir-se autônoma e livre, submetendo corpo e
alma às escravizantes práticas corporais e sociais, resulta em servidão, não em
rebelião e transformação de uma cultura que sempre tratou a mulher como um mero
pássaro cativo e decorativo.
Franklin Cunha (Adapt.)
Texto 2:
Ai Que Saudades Da
Amélia
Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Antiga propaganda de produtos de limpeza.
Desconstruindo
Amélia
Já é tarde, tudo está certo
Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar
O ensejo a fez tão prendada
Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume esquecia-se dela
Sempre a última a sair...
Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também
A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende porque
Tem talento de equilibrista
Ela é muita se você quer saber
Hoje aos 30 é melhor que aos 18
Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra nigth ferver
Texto 3:
TEMA: Historicamente,
as relações entre os gêneros masculino e feminino em nossa sociedade não se dão
de forma equânime. Não obstante o senso comum de que houve avanços no sentido
de igualdade entre ambos, vozes como a do texto de Franklin Cunha remetem-nos à
discussão sobre a veracidade dessa autonomia da mulher na sociedade atual.
Com base nisso, redige um texto
dissertativo-argumentativo acerca do seguinte tema:
AUTONOMIA DA MULHER NA SOCIEDADE ATUAL: AVANÇO
OU ILUSÃO?