Olá RED, tudo bem? Segue o discurso do Roberto Civita (presidente do conselho do Grupo Abril). Neste discurso ele resume de forma brilhante o contexto atual do Brasil (educação, economia, política...). Está muito bem escrito e a leitura é muito fácil e agradável!! Estou postando porque é uma ótima fonte de informações gerais sobre o nosso país. Recomendo fortemente que vocês leiam o texto INTEIRO prestando muita atenção!! Tentem refletir sobre as questões apresentadas. Garanto que vai ajudar muito na hora de argumentar na redação do Enem que vocês vão fazer daqui a menos de um mês!! : )
“Balanço panorâmico do Brasil atual”
Palestra proferida por Roberto Civita
Presidente do Conselho e Editor do Grupo Abril
na Conferência J.P. Morgan Brazil Opportunities
Sheraton São Paulo WTC Hotel
São Paulo, 27 de novembro de 2012.
Boa tarde!
É um enorme prazer e uma honra fazer parte desta quinta
edição anual da Brazil Opportunities Conference, promovida pelo J.P.Morgan, uma
instituição com a qual o Grupo Abril tem uma relação já histórica.
Falar sobre o Brasil, suas oportunidades e seus desafios não
é uma tarefa das mais triviais. Digo isso porque, a cada dia, a cada semana, a
cada ano que se passa, este país, sua economia e sua sociedade se tornam mais
modernas, mais sofisticadas e mais complexas. E, portanto, muito mais difíceis
de serem analisados. Mas é justamente este movimento histórico vivido nos
últimos anos – um andar para a frente, não sem percalços – que torna o Brasil
um lugar tão fascinante. E é, provavelmente, por isso mesmo que vocês estão
aqui hoje.
Afinal, que país é este? O que este gigante, com enorme
extensão terroritorial e quase 200 milhões de habitantes, tem a oferecer a
homens e mulheres de negócios vindos de todas as partes do mundo em busca de
oportunidades de investimento e de crescimento? É o país da euforia vivida
pelos investidores internacionais de dois anos atrás ou o país de taxas de
crescimento modestíssimas de 2012? É um mercado de oportunidades quase
infinitas, onde há tudo por ser feito, ou uma terra hostil para quem deseja
investir e empreender?
Arrisco pouco ao dizer que o Brasil do presente é tudo isso
ao mesmo tempo. Errará quem tentar decifrar nossa economia usando as lentes da
euforia ou do ceticismo. Só compreenderá o mercado brasileiro quem abdicar do
uso exclusivo das análises de curto prazo e conseguir enxergar o processo com
horizontes mais amplos. Já há algum tempo, o Brasil não é o país do OU, uma
nação de cenários extremos. Estamos no meio do caminho, o que torna nossas
decisões no presente cruciais. A boa notícia, para vocês e para nós,
brasileiros, é que a sociedade decidiu seguir em frente, abandonando as
tentações de olhar para trás. A dúvida, hoje, é a velocidade que conseguiremos
imprimir à nossa caminhada rumo ao desenvolvimento e como estaremos
posicionados na corrida global em relação a nossos competidores.
Para tentar simplificar a complexidade do Brasil de hoje,
optei por elaborar uma relação de aspectos positivos e negativos de nossa
estrutura político-sócio-econômica. É interessante notar que, no decorrer da
minha exposição, surgirão aparentes paradoxos. Algumas de nossas fraquezas
estruturais podem – e devem – ser vistas como grandes oportunidades.
Fortalezas, por vezes, escondem armadilhas. Esse é o fascínio do Brasil,
sobretudo para quem gosta de alguma emoção.
Comecemos pelos aspectos positivos, aqueles que colocam o
Brasil num patamar acima de seus competidores – sobretudo os diretos – e que
são os grandes responsáveis por esta conferência de hoje.
· Somos
uma democracia sólida e estabelecida – certamente a mais sólida e estabelecida
entre os países do chamado BRIC. A Rússia é quase uma ditadura disfarçada,
assolada pela corrupção (um problema e tanto para qualquer investidor sério!).
A Índia, com sua heterogênea população de 1 bilhão de habitantes, é uma democracia
fragilizada por um processo político caótico e fracionado. Não custa lembrar
que, embora o hindi seja a língua oficial da Índia, os dialetos locais passam
de 300 e as províncias reconhecem como oficiais outros cinco idiomas. A China é
um gigantesco, surpreendente e poderoso animal exótico – economicamente
semiaberto e politicamente ainda uma didatura autoritária.
· O Brasil
é integrado por um só idioma e está livre de divisões religiosas – este é o
país do sincretismo – e de regionalismos separatistas. Também estamos livres de
tensões belicosas com os vizinhos, com os quais compartilhamos 15.700
quilômetros de fronteiras, sendo que nenhum centímetro deles é objeto de
disputa ou cobiça. Finalmente, aqui não há notícias de terremotos, tsunamis ou
furacões avassaladores. Temos sido poupados, como poucos, das forças
destrutivas da natureza.
Essas
características essenciais – históricas e geográficas -- nos distinguem
formidavelmente no mundo. Há outras, forjadas pelas circunstâncias. E há,
ainda, uma terceira categoria, fruto de nossa vontade como povo. A conjunção
desses três fatores é sinérgica, e faz do Brasil um país, uma economia e um
mercado sem igual no planeta.
·
Nossas instituições funcionam relativamente
bem – e, gradativamente, vêm sendo fortalecidas. O mais extraordinário sinal
disso tem sido a atuação do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão,
o maior escândalo financeiro e político da nossa história – certamente um “turning
point” num país em que os poderosos nunca eram punidos. O episódio, afinal,
reafirma que a Lei deve ser seguida – e que ela vale para todos.
·
Somos um país de imprensa livre e
independente, um patrimônio defendido em diferentes ocasiões por uma presidente
que, não esqueçamos, tem sua origem na esquerda e está cercada por muitos
auxiliares e conselheiros que insistem em defender “o controle social da mídia”. "Prefiro o barulho da imprensa
livre ao silêncio das ditaduras", declarou Dilma Rousseff em seu discurso
de posse. A frase foi repetida por ela em outras ocasiões – certamente como um
recado aos que defendem o contrário. Mais importante que o discurso de aliança
com a liberdade de expressão, porém, é a coerência entre as palavras e os atos.
Goste o governo ou não do resultado, a imprensa brasileira vem fazendo seu
trabalho de investigar malfeitos, apontar desvios, ouvir pontos de vista
discordantes e cobrar providências.
·
A sociedade brasileira se torna cada vez
menos tolerante à prática descarada da corrupção. E isso vem se refletindo nos
atos do governo. No primeiro ano de mandato da atual presidente, seis ministros
envolvidos em escândalos revelados pela imprensa perderam seus cargos.
· Nossa
região, a América Latina, se dividiu nos últimos anos em dois blocos de países.
O Brasil optou por fazer parte do grupo da racionalidade, tanto em termos
econômicos quanto políticos. Damos, vez ou outra, nossas derrapadas, mas
estamos mais para Colômbia, Peru e Chile do que para Venezuela, Bolívia e
Argentina.
· Criamos
um respeitável mercado de consumo interno, fortalecido pela ascensão da chamada
“nova classe média”, um contingente de 35 milhões de brasileiros que, nos
últimos dez anos, deixaram a condição de pobres para se tornarem consumidores
de bens e serviços. Na última década, a estrutura econômica brasileira adquiriu
uma "geometria" muito mais equilibrada. Não formamos mais a pirâmide
clássica, com uma gigantesca base de miseráveis e um topo de poucos muito
ricos. Apesar das enormes carências que ainda temos, somos, hoje, um país mais
civilizado e desenvolvido.
· Somos,
também, um país de riqueza menos concentrada regionalmente. O crescimento vem
se deslocando rapidamente para o interior, reduzindo desequilíbrios históricos.
Regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentam taxas asiáticas de
expansão, impulsionadas pela força do agronegócio, do setor de commodities e do
aumento do consumo. O Brasil é um país, a cada dia, mais urbano. E, como
sabemos, é nas cidades que a vida acontece – aqui e em qualquer outro lugar do
mundo. Adicionalmente, aumenta o equilíbrio entre as classes sociais. Um estudo
da OCDE mostra que nenhuma outra grande economia reduziu a desigualdade de
renda como o Brasil nos últimos 20 anos. Entre 1995 e 2008, nosso coeficiente
de Gini caiu de 0,605 para 0,549. Desde o ano 2000, a taxa média de crescimento
real da renda das classes A e B foi de 10%. No mesmo período, a metade mais
pobre da população brasileira apresentou um ganho real per capita de 68%. Neste
quesito, estamos na contramão de boa parte do mundo. Os demais países do BRIC
tornam-se mais desiguais conforme enriquecem. E a recente crise econômica, definitivamente,
não fez bem ao equilíbrio socioeconômico de nações modelares como a Alemanha e
os Estados Unidos.
· O Brasil
também está vivendo o período de bônus demográfico. Nos próximos 20 anos, a
população economicamente ativa atingirá seu ápice: 71% do total. Os motores da
economia estarão, portanto, a plena carga, com produção e consumo projetados
para níveis cada vez maiores.
· Somos um
país riquíssimo em recursos naturais – de água doce a minério, de terras
férteis a insolação, de petróleo a florestas. Nos próximos anos, se tudo correr
bem, o Brasil se tornará um dos maiores produtores de petróleo e gás do mundo.
Ainda que com grandes dificuldades e percalços, uma cadeia de pequenas e
grandes empresas ligadas a esse setor vem se moldando no país, trazendo consigo
capital, emprego e tecnologia. Temos, enfim, condições de oferecer ao mundo o
que ele hoje quer e precisa comprar. Seria temerário basear nossa economia
apenas em commodities agrícolas, energéticas e
minerais. Mas não podemos subestimar a importância delas num mundo cada vez
mais demandante de energia e alimentos. Dependendo do que se faz com as
riquezas que elas geram, as commodities podem ser uma bênção – e não uma
maldição.
· Graças
ao tamanho de nosso mercado, a abundância de recursos naturais e as regras do
jogo correspondentes, estamos hoje bastante integradas ao resto do mundo. Os
investimentos estrangeiros continuam a bater recordes e temos um número
crescente de empresas multinacionais com papel relevante aqui, tratadas – legalmente – exatamente como as
nacionais. Essa integração e igualdade de tratamento funcionam como uma
espécie de blindagem contra medidas econômicas e políticas tresloucadas. Ainda
que os governos quisessem, não poderiam adotá-las. O custo social e econômico
seria insuportável.
· Passamos
por uma onda de empreendedorismo – por oportunidade – nunca vista antes no
país. Isso, apesar de todos os obstáculos colocados à frente de quem quer fazer
negócios no Brasil. O empreendedor brasileiro é um herói da resistência. E a
quantidade de heróis vem crescendo – um movimento alimentado pela estabilidade
da moeda, pelo crescimento do mercado de consumo, pela modernização do mercado
de capitais e pelo acesso cada vez maior às novas tecnologias, que rompem
barreiras de entrada. Entre 2000 e 2010
– apenas uma década – o número de empresas em operação no país cresceu quase
50% – são mais de 6 milhões de negócios dos mais diferentes portes, atuando nos
mais diferentes setores. Um dado animador: a taxa de empresas que conseguem
ultrapassar a barreira dos dois anos de existência passou de 50%, no início
desta década, para mais de 70% em 2012.
· Temos
uma infinidade de médias empresas, com baixos índices de profissionalização,
que hoje enxergam a necessidade e a oportunidade da consolidação de mercado.
Para investidores estrangeiros, isso é música. Para
o mercado brasileiro, uma enorme oportunidade de modernização e ganho de
escala.
· Evoluímos
consideravelmente na qualificação de nossos executivos e homens e mulheres de
negócios. (As mulheres, aliás, são personagens cada vez mais presentes e
influentes no mercado de consumo e no ambiente de trabalho.) Os profissionais
brasileiros estão mais cosmopolitas, mais bem preparados e contam com uma característica que pode ser encarada
como qualidade ou como risco: a flexibilidade. Em situações como a que o mundo
está vivendo, ser flexível é uma vantagem. Vale lembrar que aprimoramos essa
nossa herança histórica e cultural imersos em décadas de hiperinflação e de
foco exclusivo nas horas – e não nos anos e décadas – seguintes. Naquele
ambiente, só os flexíveis sobreviveram. Passada essa fase negra de nossa
história econômica, o desafio passa a ser planejar. Podemos – e devemos – nos voltar para o longo
prazo como empresários e como sociedade.
Economicamente falando, esse é o lado mais atraente do
Brasil. Ele é real. Existe. Não é expressão de vontade ou fruto da ação de
especuladores. Esse lado real do Brasil deve ser aproveitado, sobretudo porque
há poucos países no mundo – e sobretudo neste nosso mundo em crise – que
ofereçam um conjunto de características tão notáveis. Mas esse Brasil de
crescimento, que evolui, avança e que dá tanta margem ao empreendedorismo, ao
espírito animal do empresário, essa terra prometida onde há abundância de leite
e mel convive com um lado arcaico, resistente e bruto.
O Brasil é, para
fazer uma comparação literária, o personagem da principal obra de Robert Louis
Stevenson: às vezes, o genial e doce Dr. Jekyll, às vezes, o selvagem Mr. Hyde.
É preciso conhecer o lado Hyde do Brasil para poder enfrentá-lo com chances
maiores de sucesso.
Vejamos como nosso lado sombrio se manifesta:
· Apesar
dos esforços feitos, a qualidade de nossa educação ainda é lamentável. O Brasil
conseguiu praticamente universalizar o ensino fundamental, mas avança muito
pouco na melhoria do padrão do que é ensinado em nossas escolas – sobretudo as
públicas. Os testes internacionais estão aí para comprovar a dimensão dessa
tragédia. No último Pisa – o Programa
Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE –,
metade dos alunos brasileiros na
faixa dos 15 anos não atingiu níveis mínimos de compreensão em matemática,
leitura e ciências. (Isso, apesar da evolução de nossas notas nesse tipo de
prova nos últimos anos!) Segundo a maior
parte dos especialistas sensatos, não se trata de uma questão de quantidade de
investimento na área, mas, sobretudo, de falta de gestão e de coragem para
desafiar tabus e o corporativismo reinante no setor. Educação – e, sobretudo
educação de qualidade – é um dos maiores sonhos de consumo da nova classe média
brasileira. É esse sonho que sustenta a impressionante expansão das redes
particulares de ensino. (O Brasil tem hoje a segunda maior rede de
universidades privadas do mundo e mesmo nós, do Grupo Abril, temos um vigoroso
braço educacional atuando na faixa do ensino básico). Mas, não tenhamos
ilusões: a superação de nosso desafio educacional é uma missão que vai bastante
além desta geração de brasileiros.
· Essa
fragilidade num setor vital para o presente e o futuro do país tem impacto
direto na formação de nosso mercado de trabalho. Sofremos com uma enorme falta
de mão de obra qualificada – de professores de ciências a profissionais de
nível técnico. Estima-se um déficit de 150 000 engenheiros. Apenas a indústria
de São Paulo, o maior centro econômico do país, precisará de 415 000 técnicos
de nível médio nos próximos três anos. Não há, atualmente, estrutura para a
formação desses quadros. Hoje, por absoluta falta de oferta, o salário de um
soldador qualificado – com conhecimentos básicos de informática e capaz de ler
um manual – está próximo dos quatro mil dólares mensais.
· A
situação da educação, da saúde pública, das condições de mobilidade nas grandes
cidades nos leva ao segundo ponto crítico da estrutura brasileira: a carência
de uma competente e eficiente gestão pública, em todas as esferas de governo.
Aqui, ainda imperam as indicações políticas para cargos públicos. Empregos no
governo continuam a ser a grande moeda de troca nos conchavos e alianças
políticas. Contamos, sim, com centenas de milhares de profissionais de carreira
na administração pública, gente bem treinada, competente, disposta a elaborar,
a acompanhar e a cumprir metas. Isso graças aos altos salários pagos aos
burocratas qualificados, à estabilidade garantida ao funcionalismo, e a um
processo de seleção rígido, baseado em concursos públicos disputados. O grande
problema está, normalmente, em quem manda nesses burocratas. Existem
mais de 23.000 cargos de confiança, baseados em indicações políticas, só no
governo federal. Para efeito de comparação, o governo americano mantém 8.000 cargos
de confiança. O francês, 4.000. E o inglês, 300. Temos hoje, no Brasil, 23.000 dirigentes
indicados politicamente mandando em mais de um milhão de funcionários
concursados.
· Insistimos
em manter uma das mais complexas estruturas burocráticas do mundo, inclusive
para quem quer fazer negócios. O Brasil é um país de cartórios, de carimbos, de
firmas reconhecidas. São necessários, em média, 119 dias para se abrir uma nova
empresa no país – um período de tempo muito maior que em economias sabidamente
mais eficientes, como os Estados Unidos (seis dias). Mas o absurdo cresce
quando nos comparamos com nações reconhecidamente frágeis. Em matéria de
burocracia complexa, ineficiente e cara, perdemos do nosso vizinho Paraguai e,
pasmem! ficamos atrás até da Ruanda. Mudanças vêm ocorrendo – mas elas
são poucas, lentas e claramente insuficientes.
· Nosso sistema
tributário é péssimo e só vem piorando. Entre 1988 e 2012, foram editadas
mais de 290.000 normas tributárias – cerca de 30 por dia. Apenas para
cumprir as normas dos fiscos, as empresas instaladas no Brasil gastam cerca de
45 bilhões de reais ao ano. Esse é o capítulo da complexidade. Nossa carga fiscal
total é uma das mais altas do mundo, com baixíssima contrapartida para a
sociedade.
· Nossa
infraestrutura também está muito aquém da necessidade das empresas e da ambição
de crescimento do país. Temos deficiências em todas as áreas: geração e
transmissão de energia, portos, aeroportos, estradas, ferrovias, hidrovias,
mobilidade urbana. A carência de infraestrutura faz do Brasil uma das grandes
oportunidades para as empresas e os investidores do setor. Esse é o lado bom da
história. O ruim fica por conta dos gargalos evidentes, da falta de
produtividade imediata e – uma novidade – da crescente insegurança em relação
às regras que regem os negócios firmados entre governo e iniciativa privada.
Infraestrutura é investimento de retornos de longo prazo. Sem a certeza do
cumprimento dos contratos, os interessados tornam-se raros ou desaparecem. Um risco que, até os representantes do Estado
forte no governo sabem, não podemos correr.
· Temos
uma legislação trabalhista primitiva e paternalista, que não acompanhou as
transformações do mercado ao longo das últimas seis décadas. O trabalhador brasileiro
custa muito às empresas – não necessariamente em função dos salários pagos, mas
dos encargos que são obrigadas a pagar, sem direito a negociações entre as
partes. A Justiça do Trabalho conta com quase 41.000 servidores e custou mais
de 11 bilhões de reais aos cofres públicos em 2011. Num período de apenas cinco anos – de 2006 a
2010 – recebeu quase 14 milhões de novas ações, boa parte delas movidas por
firulas, que geram insegurança e custos e drenam energia por parte das
empresas.
· Esses e
outros problemas, somados, fazem com que o trabalhador médio do país seja muito
pouco produtivo. Hoje, são necessários cinco brasileiros para produzir o
equivalente ao que faz um único trabalhador americano.
· Por
conta da baixa qualificação da média dos nossos profissionais, de um histórico
de pouca concorrência, de muita burocracia e uma aversão ao risco que só agora
começa a ser vencida, somos um país que inova muito pouco. Desde 2009, a China
é o segundo país do mundo em investimentos em pesquisa e desenvolvimento. O
Brasil é o nono. A China ainda não pode ser considerda uma nação inovadora. Mas
está se preparando para ser, com uma velocidade e uma capacidade de
planejamento invejáveis.
Essas mazelas estruturais da nossa economia – tão reais quanto
nossos avanços – unem-se agora a um risco conjuntural, que não pode ser
ignorado: o excesso de visão de curto prazo do governo e sua crença na
capacidade do Estado de arbitrar os preços da economia – uma tentação que
conduz inevitavelmente ao desastre. Em repetidas ocasiões, representantes do
governo têm vindo a público para dizer que o conhecido tripé da estabilidade
(câmbio flutuante, metas de inflação e superávit fiscal) é intocável. Esperamos,
sinceramente, que seja. Mas preocupam as liberdades que as autoridades
monetária e fiscal têm tomado ultimamente, cada vez com maior frequência.
Sabemos bem que essas liberdades sempre cobram um preço – e ele pode ser alto
demais para um país que tenta mostrar ao mundo que é muito mais Dr. Jekill que
Mr. Hyde.
Trata-se de um ponto de discussão num país aonde, para nossa
sorte, o consenso vem se estabelecendo. Há alguns pontos já inegociáveis para a
sociedade. Precisamos – e queremos – atingir um patamar de crescimento
sustentado. Geração de renda, mais empregos, mobilidade social, desenvolvimento
econômico e social são, hoje, a melhor garantia de voto para os políticos do
país. Não há outra agenda possível ou viável politicamente. E a força desse
consenso não pode ser desprezada.
Acadêmicos, empresários, investidores, políticos da situação
e da oposição e até alguns editores e jornalistas conseguem enxergar com
clareza quais são os reais problemas do Brasil. A agenda é óbvia e os discursos
convergem para a necessidade de derrubar os obstáculos à nossa eficiência e competitividade.
Há concordância sobre o que devemos atacar e sobre a importância de se fazer
isso com urgência. Vozes discordantes e retrógradas são cada vez mais apartadas
pela sociedade. Pregam para o que está se transformando num deserto. Talvez esse seja o maior dos avanços
brasileiros. Somos um país unido na vontade de crescer e de prosperar como
nação, como democracia e como sociedade.
A dúvida – de muitos bilhões de dólares – está em nossa
capacidade de atacar nossos problemas com garra, bom senso, competência e
velocidade. Já fizemos isso em outros momentos. Nossa democracia consolidade e
a estabilidade monetária são as maiores provas de nossa capacidade de
superação.
Como representante da mídia, tenho a obrigação e a
satisfação de dizer que os grandes veículos do país, assim como a boa imprensa
especializada, vêm contribuindo para jogar luzes sobre esse cenário, apontando
erros e atrasos, e refletindo os anseios da sociedade, das empresas e de suas
associações. Como já foi dito antes, este é um país de liberdade de expressão. E
isso também é essencial para ajudar a manter o rumo.
Agora,
precisamos de governantes e legisladores que transformem discurso em ação e que
tomem como principal missão a simplificação, a racionalização e a execução
rápida das mudanças necessárias para que o lado brilhante do Brasil – com suas fantásticas
possibilidades e oportunidades – prevaleça. A tarefa é gigantesca e
primordialmente nossa. Mas contamos com – e agradecemos desde já – a sua ajuda.
Muito obrigado.
Muito bom :)
ResponderExcluirAjudou Mtooooo!!!
ResponderExcluirObrigado Red.
muito bom o texto!
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